Frei Betto e sua análise social

Prezados leitores, publico hoje um texto que seria de exclusividade do Jornal Fonte, no entanto houve algumas pequenas edições no mesmo, que diante da falta de tempo, foi publicado sem eu ter revisado-o.

Peço desculpas, e segue abaixo o texto original.

Obrigado, Ariel.


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Neste ultimo domingo (16), com muito frio e fortes chuvas aconteceu o III Fórum Social Regional. O evento contou com a presença de diversos Movimentos Populares, pastorais, padres, bispos, e professores de diversas regiões e, também, com a assessoria do Frade Dominicano e escritor Frei Betto. Adepto da teologia da libertação, ex-assessor especial de Lula, Frei Betto continua incansavelmente sua luta pela reforma agrária no Brasil e veio compartilhar um pouco de sua trajetória.

Em uma mesa com toalhas vermelhas e amarelas, lembrou da troca do “Fome Zero” (programa onde foi coordenador de mobilização social), pelo atual programa “bolsa família” ao qual se referiu como a “galinha dos ovos de ouro”. Fez uma crítica aos movimentos sociais por não unirem forças nas lutas de cada movimento particular. Um processo que acarreta em uma perda de força tornando as lutas individuais e isoladas, não conseguindo pressionar os governos (municipais, estaduais e federal) para fazer com que as coisas aconteçam, tendo em vista que estes só funcionam sob pressão.

Explicou também que esses movimentos esperavam do governo Lula grandes mudanças, mas que não foram firmes nas cobranças, com isso o governo neutralizou os movimentos sociais absorvendo líderes no próprio governo, coisa que não é diferente em nossa cidade, onde o governo absorveu as pseudo-oposições que aqui existiam.

Fez uma inteligente critica também a nós, sociedade civil. Disse que somos a autoridade, que os políticos são apenas representantes e que em verdade eles são nossos servidores pagos por nós. Não somos seus súditos, portanto cabe a nós cobrarmos deles atitudes dignas de transparência, ética, e moral.

Falou também da participação das pessoas na política atual, pois segundo ele, “quando se fala de política as pessoas não gostam, e não estão dispostas a discutir esse assunto, porém temos que lembrar que uma maioria que tem nojo de política, é governada por uma minoria que não tem”. Afirmando que os bons, as boas pessoas devem fazer política.

Com ótimas colocações questionou se há mesmo o fracasso do socialismo, considerando que criticam o socialismo, mesmo cubano, mas “todo mundo esquece que para 2/3 da população mundial, o capitalismo não funciona, pois elas vivem apenas para a preservação biológica”, ou seja, não vivem, sobrevivem. Frei Betto concluiu dizendo que em sua época os jovens não utilizavam drogas, pois tinham suas “utopias”, seus sonhos e suas lutas ideológicas, que já serviam para os manterem ocupados.

Quando questionado a respeito do papel dos novos meios de comunicação pela internet como redes de relacionamentos, blogs, e mini-blogs, Frei Betto disse: “Claro que as novas tecnologias são muito importantes na informação e na formação de opinião pública [...] isso inclusive vai trazer muitas surpresas para os institutos de pesquisas, pois hoje temos o individuo oculto, cujo único meio de participação e de interesse é pela internet, e que ele vai formando sua opinião e só vai expressa-lá no dia que for sair de casa para dar o seu voto.”

Porém, ele alerta para três grandes problemas:
A falta de capacidade critica e de análise política, ou seja, instabilidade ideológica dessas pessoas, por não dialogarem e refletirem coletivamente.
A privatização do acesso a informação política, o que causa manipulação de idéias.
O acesso a informação on-line não leva a mobilização.

Por fim, no meio de tantas frases e colocações marcantes, assim como era de se esperar de um grande militante, uma se mostrou bem realista e atual: “O poder não muda ninguém, apenas o revela.” e que concluiu “... de um pouco de poder e a verdade vai aparecer”.