Um assunto que esteve em evidencia há algumas semanas atrás, fez com que várias assembléias estudantis, reuniões internas em departamentos, e reuniões em Brasília com reitores de universidades federais, fossem organizadas para discutir de maneira ampla e aberta a utilização do NOVO ENEM como método de avaliação para ingresso em universidades federais e futuramente publicas.
O Enem que há mais de dez anos tem o seu papel fundamental na vida dos estudantes brasileiros, hoje passa por uma reforma. A prova que antes contava com 63 questões objetivas (testes) e uma redação, e era realizada em apenas um dia, hoje passará a possuir 180 questões objetivas, uma redação, e será realizada em dois dias.
De acordo com o Ministro da educação Fernando Haddad, a prova não mudou apenas seu corpo, mas também o seu conteúdo. Segundo ele, a prova deixará de ser conteudista, e passará a abordar assuntos presentes no dia-a-dia dos jovens brasileiros.
As universidades federais tiveram total autonomia segundo o governo, para decidir se aderem ou não a utilização do NOVO ENEM. No entanto, além disso, existe uma idéia mais específica, que seria a utilização do NOVO ENEM como a única forma de ingresso em uma universidade federal, o que eles chamam de “Sistema Unificado” ou no popular "Leilão de vagas", que seria fazer apenas a prova do NOVO ENEM para concorrer a uma vaga em qualquer IFES (Instituições Federais de Ensino Superior).
Até ai, tudo parece até um sonho, afinal como o ministro mesmo diz, e a UNE assina em baixo, “É o fim do Vestibular!”. É claro que até agora várias perguntas ainda não foram respondidas, fato que fez com que a ANDIFES (Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior) enviasse uma carta ao ministro da educação pedindo mais esclarecimento a respeito do novo projeto.
No entanto, existem vários pontos que nos deixam claro a pressa e a necessidade de se utilizar essa proposta do governo sem maiores questionamentos das IFES. Prova disso é o prazo que as Instituições tiveram para decidir se iriam utilizar o NOVO ENEM de alguma forma ou não, que foi de 60 dias. Tempo um tanto quanto curto, tendo em vista que qualquer alteração em qualquer método de ensino e de avaliação deva ser estudado com cautela, afinal de contas a vida de milhões de jovens estarão em jogo. Além do mais, todos os pontos fortes do projeto caíram por água abaixo, quando as universidades ndecidem não utilizar o sistema unificado, mas sim a prova como parte do método de avaliação para ingressantes.
Outro fato importante de ser lembrado, é que 87 das 100 escolas com melhor desempenho no ENEM são particulares e as outras 13 são federais, e dessas 100; 75 são do sudeste. Isto deixa claro a real oportunidade que um aluno da rede estadual de ensino, principalmente do nordeste e do norte, terá para ingressar em uma universidade federal. Poderíamos concluir ainda, que dessa forma o ensino superior público, ficaria mais elitizado do que já esta, pois hoje em dia, mesmo com programas de ações afirmativas, cotas, etc. Ainda é rarissima a existência de negros, ou brancos, oriundos de guetos, estudando em universidades publicas.
Enfim, mesmo os reitores, e professores tendo consciência de tudo o que foi dito aqui, ainda sim, decidiram apoiar essa jogada espetacular do governo. Alguns se defendem dizendo que temos que ter fé, e que vai dar tudo certo, outros chutam dados sem nenhum embasamento cientifico, e outros chegam a dizer ainda que a oportunidade de cursar uma faculdade em uma universidade publica será mais democrática.
Mas qual seria a verdadeira intenção deste recém projeto do governo? Porque só agora o ministro teve essa idéia sendo que ele está lá a vários anos?
De qualquer forma, alguns acreditam numa futura candidatura do Ministro da educação Fernando Haddad, outros acham que é apenas uma estratégia de marketing para a educação brasileira, que há muito vem se deteriorando não só neste governo, mas também nos anteriores.
Seja como for, os prazos foram curtos, a importância dada à educação e a opinião dos jovens (que serão os mais atingidos), foi inexistente, e a maneira como todo o processo foi conduzido, é extremamente preocupante.
Reynaldo Fernandes, Presidente do INEP (Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa), em palestra para esclarecimento do NOVO ENEM em abril na UFSCar (Universidade federal de são Carlos), quando questionado a respeito da falsa proposta de democratização das vagas em universidades publicas, teve a infelicidade de dizer que a mesma só seria possível se as vagas fossem sorteadas, fato que indignou desde alunos, até a administração da universidade.
Portanto, definitivamente não é o fim do vestibular, e muito menos a democratização do ensino superior, que por sinal está longe de ser alcançada, principalmente se as mudanças na educação continuarem acontecendo dessa maneira, com pressa, e sem a consulta da opinião pública que vem de quem é realmente beneficiado ou não.
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