Estágio

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Há uns dois anos atrás houve um concurso para estagiário da câmara de Jaboticabal. Fiz minha inscrição quando estava no ultimo ano do Ensino Médio, vários meses se passaram e havia até me esquecido desse tal concurso, pois ainda não haviam me comunicado a data da prova.

Num sábado as 23:00h minha tia me liga, me avisando que o concurso ocorreria no outro dia, no domingo de manhã, e que ela havia visto a data por um acaso no site da câmara.

Acordei no domingo e fui fazer a prova. Cerca de 200 pessoas haviam feito as inscrições, porém, apenas 27 comparecem para fazer o exame, óbvio, todo mundo ali ficou sabendo por puro acaso.

O resultado finalmente chegou, havia 10 vagas, e eu tinha ficado em 3º (terceiro) na classificação final.

Mais alguns meses se passaram, e fomos chamados no começo do ano seguinte para comparecermos a câmara. Nessa época eu estava cursando FATEC (bioenergia sucroalcooleira). Fui até lá, e chegando encontrei todos os outros que também passaram.

Fui abordado por uma simpática mulher que começou a conversar apenas comigo mesmo diante de todos os outros “candidatos”, a conversa foi bem simples, perguntou meu nome idade etc.

Depois todos nós subimos, sentamos nas cadeiras e foram chegando vereadores e assessores que nos chamavam para conversar, e um rapaz chamado Márcio da empresa CIEE (empresa de estágios) que dava algumas instruções. Mal sentei na cadeira aquela mulher que havia conversado comigo antes disse em voz alta: “- Nesse o vereador Jan Nicolau tem interesse” (me apontando).

Na hora não sabia do que se tratava, mas fiquei feliz, pois havia sido o primeiro a ser comprado, convocado, escolhido ou sei lá. Enfim cada um conseguiu alguma coisa, e eu voltei contentíssimo para casa, pois aquele seria meu primeiro emprego.

No dia seguinte liguei para saber quando eu começava (estava muito ansioso), quando tive a notícia de que eu não pudera ser aceito no emprego porque minha faculdade não era compatível com o que eu iria trabalhar lá dentro, porém eles ainda estavam analisando.

Estava bom de mais pra ser verdade, como que eu um garoto de 18 sem nenhum vinculo com ninguém lá de dentro, sem meus pais serem cabos eleitorais de ninguém, sem se quer saberem que meu sobrenome existia nessa cidade, iria conseguir um emprego lá?
Realmente estava querendo de mais, sim, era quase um absurdo querer algo desse tipo em uma cidade de política neo-coronelista como a nossa.

Bem, mas como eu era e sou um jovem determinado, resolvi dar uma lida no edital do concurso, e nele percebi que não havia nenhuma restrição quanto a faculdade e ao curso que você fazia
Pois bem resolvi encarar o problema de frente. Fui até a câmara e fui conversar com os responsáveis por me recusarem (se eu não me engano o setor jurídico). Chegando lá, é claro que fui tratado com total desprezo e desrespeito, meus olhos chegaram a encher de lágrimas, mais segurei no máximo.

Quando argumentei quanto ao edital, mesmo com uma cópia do mesmo em minhas mãos, elas argumentaram que eu estava errado e pronto, e que eu só conseguiria estagiar lá, se o presidente da câmara permitisse, pois ele era o patrão delas.

Sai de lá chocado, porém fiz questão de guardar muito bem a face daquelas mal educadas mulheres e também seus nomes. Fui atrás do então responsável pelo estágio do CIEE, que como já era de se esperar não me atendeu. Enfim, como já era de se esperar,não consegui trabalhar naquele estágio que seria muito importante para mim naquele momento.

Resolvi não ir atrás da justiça dos homens, mas sim na de Deus. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde eu iria sorrir quando me lembrasse de tal fato.

Alguns anos se passaram, e hoje passo freqüentemente em frente à sala delas olha-as nos olhos e solto um belo sorriso de “Muito Obrigado”, pois sem elas eu jamais teria conseguido enxergar algumas coisas de nossa cidade como enxergo hoje.


Sinceramente,
Muito Obrigado!

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