Eles preferem cheiro das obras a cheiro de povo

quinta-feira, 1 de outubro de 2009



Em minha visita diária ao portal DebateOnline, me assustei logo que vi o título da última matéria publicada pelo Zé Mario: “Projeto para ampliação do Paço Municipal recebe quatro propostas”. Pensei: “Caramba, será que é em Jaboticabal? Não, aqui a prefeitura está no vermelho”. Triste engano do meu pensamento lógico. Quem foi que disse que estar no vermelho significa economizar em coisas fúteis e desnecessárias? Não, as coisas aqui não são assim, não quando o dinheiro não é deles, mas sim nosso, pelo menos é o que estamos percebendo diante deste fato.


Como se já não bastasse essa “bela” notícia, alguns minutos depois entro novamente e o que vejo? “Alegando falta de orçamento, prefeitura nega remédio de R$37 e paciente entra na Justiça”, uma nova matéria também do Zé Mario. Logo pensei: “Essa com certeza é em Jaboticabal”


Calma ai, falta orçamento pra tratar de uma paciente que precisa de um medicamento de R$ 37 para dar continuidade ao tratamento de lúpus e nefrite lúbica — doença que atinge vários órgãos, entre eles, os rins, mas temos 3 milhões de reais para investir na ampliação do Paço Municipal.


Como pode um ser humano dar mais valor a uma obra do que a uma vida? Quem irá se beneficiar com a ampliação do Paço Municipal? Quantas vezes você foi até o Paço Municipal, e percebeu que aquele espaço era insuficiente para as tarefas lá realizadas? Será que eles acreditam que aumentando o Paço, também aumentará a qualidade de vida dos munícipes de Jaboticabal? Quantas vidas poderiam receber melhorias na saúde, ou até quantas delas poderiam ser salvas com 3 milhões?


Chegamos ao ponto, em que podemos começar a comparar alguns fatos de nossa política municipal com o que há de mais sujo em nossa política nacional. A três meses da posse, João Figueiredo (último presidente da república no regime militar) confessou numa entrevista que preferia cheiro de cavalo a cheiro de povo. Aqui parece que estamos vivendo algo parecido, mas no lugar dos cavalos temos as obras.




Estão nos sugerindo desistir de pensar, querem atrofiar nossa imaginação política, e pior, nos colocam abaixo dos nossos instintos, e querem ainda que assim como eles, desistimos do nosso sentimento humano. Fingem não perceberem que temos família, trabalho, e direitos, mas jamais se esquecem dos impostos e mais impostos, e deveres que temos. Quando precisamos de um remédio somos somente mais um “coitado chato”, mas na hora das urnas e dos impostos, de repente todos somos cidadãos, do jovem de 16 anos sem lazer e sem acesso a cultura e ao esporte, ao senhor da melhor idade que depois de uma cansativa jornada de trabalho na rua procurando material reciclado, encara a imensa burocracia para conseguir isenção de IPTU de sua humilde residência pela sua falta de condição financeira.


Eis aqui o mundo onde somos todos iguais, todos eleitores. Eis o tempo onde todos querem nos ouvir e querem prometer, as eleições. Eis a cidade onde quem brilha é o povo, mesmo diante de todas as suas dificuldades, e pior, das irregularidades vistas e não compreendidas.


Parabéns pela munícipe Gersilei que entra na justiça para resolver esta ofensa a sua vida, e diz: “Quando recebi a resposta de que não seria fornecido o medicamento não me conformei. Tenho uma doença adquirida pelo meu sistema imunológico. Não fui atrás dessa doença, eu não procurei pela doença. Existem tantos casos em que as pessoas procuraram pela doença, não se cuidam e têm direito a todos os remédios possíveis. E eu? Por que não tenho?”


Por fim, pergunto lhes novamente: “A cidade em que vivemos, é a cidade que queremos?”






Fotos: ZéMario
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