Coração de papel

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Na semana passada tive a oportunidade de conversar com alguns trabalhadores da Cooperativa de Reciclagem de nossa cidade. Para quem ainda não conhece, ela já existe há vários anos e vem fazendo um trabalho digno de ser reconhecido por todos nós. Tecnicamente eles prestam um serviço, que se coloca como modernidade nos países centrais, denominado de serviços ambientais. Serviços este extremamente reconhecido e valorizado naqueles países, diante da oportunidade de redução de custos de armazenagem (células de aterros sanitários, compostagens, etc...), reaproveitamento e educação para redução de resíduos. Num bate-papo muito interessante eles nos contaram um pouco do seu dia-a-dia, das dificuldades e das vitórias que a cooperativa vive, e dos planos que têm pela frente.

O trabalho de separação de materiais reciclados é fundamental para aumentar significativamente a vida útil das chamadas “células” dos aterros sanitários, além é claro de causar uma imensa economia ao município e a todo planeta, e é exatamente esse trabalho que a cooperativa desenvolve dentro de nossa cidade.

Os trabalhadores associados tiram todo o seu sustento da separação e venda do material reciclável, ou seja, a prefeitura recolhe leva até a Cooperativa que retira dali o seu ganha pão, além de dar manutenção nas velhas e ultrapassadas maquinas que possuem. Mas deveriam receber mais, deveriam receber pelo serviço ambiental prestado à comunidade jaboticabalense.

Além disso ainda existe a ausência de materiais de segurança, e até mesmo a falta de manutenção nas maquinas uma vez que a empresa encarregada por tal problema é a SAAEJ e a mesma acaba não tendo fundos para se quer consertar uma maquina que se encontra desativada a meses por causa de uma peça de R$ 2mil. Calma ai, a SAAEJ não tem R$ 2mil para fazer essa manutenção? Pra onde então está indo o dinheiro da nova taxa do esgoto? E o ganho extra com a instalação e consumo dos novos hidrômetros ultra-sensíveis? Sempre tem algo errado e sem explicação nestas administrações. A SAAEJ sempre foi um orgulho de empresa e gestão em nossa cidade. Desde os tempos do Prefeito Baccarin que passou por processo de modernização.
O que acontece agora com o “cabidão” de empregos que virou esta autarquia?

Bem, inúmeras dificuldades cercam as vidas desses verdadeiros heróis e amigos da população Jaboticabalense, que nunca se quer receberam um título de honra ao mérito ou qualquer homenagem como: um par de luvas novas, óculos de proteção, uniformes, ou quem sabe ainda uma ajuda financeira da nossa riquíssima prefeitura, que hoje vive se esbanjando com seus inúmeros e intermináveis canteiros de obras. O que recebem são constantes ameaças de que serão substituídos por alguma empresa. Com tantas denúncias de máfia do lixo que acompanhamos em São Paulo, Sertãozinho, entre outras, caso retirem uma Cooperativa séria de pessoas decentes, logo, logo teremos nossa Jaboticabal nas manchetes da máfia.

Além disso, perderam até mesmo o almoço que durante um curto período a prefeitura deu a esses nobres trabalhadores. E o pior, tive que ouvir de um dos “chefões” do SAAEJ que seus trabalhadores também não têm tal benefício, e eu contra-argumento: “Mas os funcionários da SAAEJ recebem menos de um salário mínimo por mês? O senhor recebe menos que isso?” Difícil imaginar que as pessoas não conseguem ver nos outros o direito de ter um salário e uma vida digna.

Pois é caros leitores, é difícil enxergar esse total descaso de nosso “Coronéis” com esse seres humanos que realmente sobrevivem, sem as condições mínimas de proteção e de salário, imaginem ainda ter que ouvir de um funcionário público (pago com o nosso dinheiro e com o dos trabalhadores da cooperativa também) tamanha mediocridade. Quem sabe o coração de papel dos trabalhadores da cooperativa, não acabe encapando o de pedra dos responsáveis que deixaram essas famílias esquecidas, quem sabe assim em 2010 não podemos estar pensando diferente? Assim espero, e os trabalhadores também, já que eles estão sempre sendo embrulhados com falsas promessas.


(Texto Publicado no Jornal Tribuna em 05/12/09)

1 comentários:

Anônimo disse...

Sr. Ariel:
O Sr. escreve muito bem mas a animação do blog nem os recicladores aguentam, é realmente uma mosca na sopa.
Quanto ao assunto do post, tire o cavalo da chuva enquanto tivermos governo populista. A reciclagem só funciona e dá lucro se administrada como empresa privada,empregando com carteira assinada os atuais recicladores, o que parece não ser de seu agrado. Defendo que os recicladores tenham remuneração digna, mas eles não conseguem por si, e precisam de orientação correta e não de meia dúzia de supostos benfeitores que só os enganam com promessas.

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